Um novo estudo revela dados de extrema preocupação para quem atua na área da saúde mental, visto que ele traz informações pouco abordadas pela grande mídia, mas que são reais e cada vez mais visíveis no atual contexto de pandemia.
O estudo divulgado na última sexta-feira apontou que próxima década mais de 75.000 pessoas podem sofrer “mortes em desespero” como resultado da crise do coronavírus, um termo que se refere a suicídios e abuso de substâncias.
Ou seja, a pandemia estaria provocando agora consequências de ordem emocional, psicológica, que vão repercutir ao longo de todos esses anos.
Além da depressão e ansiedade, por exemplo, em decorrência da crise econômica (muitos perderam o emprego), a dependência química também seria outro agravante.
A pesquisa foi realizada pela organização Well Being Trust, ligada às questões de saúde mental e espiritualidade nos Estados Unidos, em parceria com pesquisadores afiliados à Academia Americana de Médicos de Família.
“Espero que em 10 anos as pessoas olhem para trás e digam: ‘Uau, elas superestimaram isso'”, disse John Westfall, diretor do Centro de Estudos Políticos Robert Graham em Medicina de Família e Cuidados Primários, um dos autores do relatório.
Westfall se refere aos números que retratam a condição de saúde mental da população americana. Eles avaliam que por causa da crise social provocada pela pandemia do novo coronavírus, surtos de suicídio e abuso de drogas também podem ocorrer.
A taxa de suicídio nos EUA está subindo há duas décadas e, em 2018, atingiu seu nível mais alto desde 1941, de acordo com um artigo da JAMA Psychiatry em abril chamado Mortalidade por suicídio e doença de coronavírus 2019 – uma tempestade perfeita?
“Precisamos repensar nossas medidas de proteção”
Mark Reger, autor do artigo argumentou algo que a psicóloga brasileira Marisa Lobo já havia alertado no Brasil, sobre os efeitos do distanciamento social sobre quem já possui alguma fragilidade emocional ou predisposição a quadros de doença mental e transtornos de humor.
“Tal condição [de quarentena] causa sim danos à nossa psiquê. Precisamos nesse momento repensar nossas medidas de proteção, a fim de aliviar dores emocionais de pessoa que já se encontram fragilizadas por outros motivos”, disse ela.
“O isolamento social nos protege de um vírus contagioso e com risco de vida, mas, ao mesmo tempo, coloca as pessoas em risco por coisas que são os maiores assassinos nos Estados Unidos: suicídio, overdose e doenças relacionadas ao abuso de álcool”, disse Jeffrey Reynolds, presidente da Family and Children’s Association.
Os especialistas concordam que a preocupação com a manutenção dos empregos deve ser tratada com prioridade, uma vez que os efeitos de um possível caos social em decorrência da falta de trabalho podem ser bem maiores do que a própria pandemia em si.
“É útil fazer esse alerta”, disse Ken Duckworth, diretor médico da Aliança Nacional sobre Doenças Mentais, segundo informações do Bloomberg. “O desemprego terá um impacto muito importante nas mortes por desespero.”