Pesquisa realizada por uma cientista comportamental da Brown University, nos Estados Unidos, chamada Lisa Littman, revelou o que muitos pais, profissionais de saúde mental e comportamento já vêm observando nos últimos anos acerca do número cada vez maior de jovens identificados como “transgêneros”.
A pesquisa conduzida por Littman revelou que 86,7% dos adolescentes que se identificaram como “transgêneros” durante a puberdade sofreram “influência social”, basicamente através de grupos de amigos e da grande mídia, especialmente das redes sociais (internet) e canais no Youtube.
Além disso, situações traumáticas como assédio sexual, estupro e conflitos familiares como o divórcio dos pais também foram observados como possíveis determinantes para o que a autora chama de “disforia de gênero de início rápido”, ou “ROGD”.
A relevância dessa pesquisa é altíssima, porque ela contraria boa parte dos discursos produzidos pelos movimentos LGBTs, que defendem o conflito com a identidade de gênero como fruto de questões biológicas, desde o nascimento, como se o sujeito tivesse nascido em um “corpo errado” ou mesmo por uma “autodeterminação”, como se o desejo de “mudar de sexo” partisse do próprio indivíduo.
Não por acaso, logo após o estudo ser publicado em 16 de Agosto na revista PLOS One, ativistas do movimento LGBT iniciaram uma reação contra a pesquisa, alegando que ela não possui valor acadêmico, pois estaria comprometida pelo método escolhido na coleta de dados. A pressão foi tão grande que levou a Universidade Brown retirar das suas páginas o link da pesquisa e informar que faria uma revisão do conteúdo, provocando indignação na comunidade acadêmica, que acusou a instituição de ameaçar a liberdade científica em nome do “politicamente correto”.
Abaixo, analisaremos alguns pontos do estudo que permanece publicado e apoiado por diversos especialistas, fazendo um resumo do que para nós é vital para a compreensão da questão transgênero em nossos dias. Também mostraremos que o método escolhido por Lisa Littman não comprometeu a pesquisa, mas pelo contrário, apenas lhe deu maior credibilidade.
O propósito da pesquisa
Particularmente, o estudo de Lisa Littman encontra eco no que já escrevemos aqui mesmo no Opinião Crítica, sob o título “Modelagem Cultural – Como seu pensamento, comportamento e identidade são manipulados diariamente”. Não abordamos a questão sexual diretamente, mas implicitamente todo o comportamento humano, o que inclui a orientação sexual e a própria concepção de “identidade de gênero”.
Já no início da sua pesquisa, Littman esclarece seu propósito, explicando a diferença entre “disforia de gênero de início tardio”, ou rápido, (resumida por ela pela sigla “DRG”) e “disforia de gênero precoce”. A definição do conceito envolvendo a DRG é criação da própria autora. Observe:
“Para o propósito deste estudo, a disforia de gênero de início rápido (DRG) é definida como um tipo de disforia de gênero com início na adolescência ou tardia, na qual se observa que o desenvolvimento de disforia de gênero começa repentinamente durante ou após a puberdade em um adolescente ou jovem adulto que não teria preenchido os critérios para disforia de gênero na infância”, escreve Littman.
A autora destaca que a natureza da sua pesquisa é inédita, tendo em vista que até 2012 praticamente não havia dados sobre o surgimento da disforia de gênero em adolescentes:
“A maioria das pesquisas sobre adolescentes com disforia de gênero até o momento não é generalizável para adolescentes com disforia de gênero na adolescência, e os resultados para indivíduos com disforia de gênero na adolescência, incluindo taxas de persistência e desistência e desfechos para tratamentos, são atualmente desconhecidos”, explica.
Uma vez esclarecido o propósito do estudo, que foi investigar o surgimento da disforia de gênero tardiamente, especificamente em adolescentes e jovens (faixa de 11 aos 27 anos), a autora se preocupou em compreender o motivo disso acontecer. Assim, ela decidiu ouvir os pais desses jovens, sendo eles a fonte de dados de toda a pesquisa.
“Nos últimos anos, vários pais têm relatado em grupos de discussão online como o 4thwavenow, nos EUA, e Transgender Trend no Reino Unido, que seus adolescentes e jovens adultos (AYA), que não tiveram histórias de problemas de identidade de gênero na infância, experimentaram um início rápido de disforia de gênero”, escreve Littman.
“Os pais descreveram surtos de disforia de gênero que ocorreram em grupos de amigos que já existiam, com múltiplos ou até mesmo todos os membros de um grupo de amigos se tornando disfóricos de gênero”, continua ela, descrevendo em seguida os fatores que podem ter contribuído para esse “surto”:
“Os pais descreveram um processo de imersão nas mídias sociais, como vídeos de transição [sexual] no Youtube e o uso excessivo do Tumblr, imediatamente antes de seus filhos se tornarem disfóricos de gênero. Essas descrições são atípicas para a apresentação da disforia de gênero descrita na literatura de pesquisa”.
Esse contato com a exposição indiscriminada de conteúdos acerca desses assuntos é o que a autora chama de “contágio social”. A relação direta com pessoas que já se identificam como “transgênero” (física ou virtualmente) é o que seria a influência exercida por colegas, o que pode explicar o motivo pelo qual jovens de um mesmo grupo de amigos apresentarem os mesmos relatos.
Outros exemplos de “contágio social”
Lisa Littman argumenta que o mesmo pode ser observado no surgimento de outros transtornos comportamentais, como a anorexia, um distúrbio alimentar que consiste no emagrecimento extremo em consequência da distorção de autoimagem. Pessoas anorexas se veem sempre acima do peso, por mais magras que já estejam, podendo chegar a um nível de desnutrição capaz de levá-las à morte.
“O contágio de colegas tem sido associado a sintomas depressivos, desordem alimentar, agressão, bullying e uso de drogas”, escreve a autora. “Há exemplos na literatura sobre transtorno alimentar e anorexia nervosa de como os sintomas e comportamentos internalizantes foram compartilhados e disseminados por influências de colegas, que podem ter relevância para as considerações de disforia de gênero de início rápido”.
Littman explica que existem “subculturas” onde dentro delas os indivíduos considerados mais importantes são os que se adequam às suas exigências. Grupos de anorexos, por exemplo, valorizam o visual magro ao extremo. Assim, quanto mais magra é a pessoa, mais “validada” ela é.
A autora explica que muitos jovens buscam esse tipo de validação nos grupos que pertencem, o que até certo ponto é normal. Porém, quando se trata de um grupo de indivíduos com problemas de ordem emocional, social, a influência exercida por ele sobre os demais se torna prejudicial, podendo gerar uma reação em cadeia dos mesmos problemas.
Esses grupos não precisam ser físicos. A internet hoje oferece o ambiente virtual capaz de exercer essa influência. Littman cita esse exemplo no caso da anorexia:
“Esses sites promovem a validação do transtorno alimentar como uma identidade e oferecem “dicas e truques” para a perda de peso e para enganar pais e médicos, para que os indivíduos possam continuar suas atividades de perda de peso. Se mecanismos semelhantes estão em ação no contexto da disforia de gênero, isso complica muito a avaliação e o tratamento dos AYAs [jovens adultos] impactados”.
A autora continua: “Na década passada, houve um aumento na visibilidade, nas mídias sociais e no conteúdo online gerado por usuários sobre questões de transgêneros e transição, o que pode funcionar como uma faca de dois gumes. Por um lado, o aumento na visibilidade deu voz a indivíduos que teriam sido subdiagnosticados e subtratados no passado. Por outro lado, é plausível que o conteúdo online possa encorajar indivíduos vulneráveis a acreditar que sintomas inespecíficos e sentimentos vagos devem ser interpretados como disforia de gênero decorrente de uma condição transgênero”.
Outros fatores determinantes
Lisa Littman observou que os pais dos jovens identificados como “transgêneros” também relataram situações traumáticas vivenciadas pelos filhos, o que também pode ter contribuído para a adoção da identidade transexual. Além dessas, diagnósticos psiquiátricos também estão presentes no histórico da maioria dos jovens adultos (AYA).
“Os AYAs que foram o foco deste estudo tiveram muitas comorbidades e vulnerabilidades anteriores ao início de sua disforia de gênero, incluindo transtornos psiquiátricos, deficiências do desenvolvimento neurológico, trauma, automutilação não suicida (NSSI) e dificuldades para lidar com emoções fortes ou negativas. A maioria (62,5%) dos AYAs tinha um ou mais diagnósticos de transtorno psiquiátrico ou deficiência do neurodesenvolvimento precedendo o início da disforia de gênero”, observa a autora.
Ativistas LGBTs contra-argumentam dizendo que diagnósticos de depressão, ansiedade generalizada e até mesmo transtorno bipolar podem ser consequências da “opressão social” sobre esses jovens. Isto é, provocados pela “rejeição” e “discriminação”, assim como pela incapacidade de se “revelar” transgênero (ou homossexual, em alguns casos).
Todavia, esses argumentos são rasos e estão baseados no discurso apenas, e não em fatos, porque são frutos de interpretação e não do relato dos que passam por tais situações. Muitos que antes viviam com esses sintomas, acreditavam que conseguiriam superar após se “revelar” ou iniciar o processo de transição de gênero. Todavia, mesmo após terem feito esses procedimentos continuaram com os mesmos problemas.
Vale ressaltar que nos referimos a indivíduos que obtiveram apoio de suas famílias, amigos e equipe de saúde. A verdade é que, após a escuta psicológica, por exemplo, tais pessoas frequentemente revelam ter vivenciado ou ainda vivenciar situações de conflito em outras áreas de suas vidas, como dificuldade de interação social, baixa auto-estima, traumas de abuso sexual e rejeição afetiva das figuras paterna ou materna durante a infância.
Ou seja, a origem do sofrimento que ativistas LGBTs atribuem à “opressão social”, na verdade, e que geram a busca por aceitação (ou adaptação) na forma de outra identidade sexual, em sua grande maioria é fruto dos próprios dilemas pessoais adquiridos por via de circunstâncias traumáticas no seio da família e/ou de experiências específicas.
Isso de forma alguma exclui a realidade do sofrimento de alguns que sofrem, de fato, discriminação, e por isso desenvolvem sintomas de desordem emocional. Todavia, essa parcela não constitui a maioria, e o que demonstra isso são os fatos revelados no histórico dos próprios indivíduos, como veremos a seguir:
Casos em particular
Segundo Littman, os pais puderam escrever abertamente acerca do que ouviam dos filhos, antes de se revelarem “transgêneros”. Eles fizeram descrições a respeito de traumas envolvendo algumas circunstâncias, a saber:
a) “Família” (incluindo divórcio dos pais, morte de um dos pais, distúrbio mental em um irmão ou pai);
b) “Sexo ou gênero relacionado” (como estupro, tentativa de estupro, assédio sexual, relacionamento de namoro abusivo, separação);
c) “Social” (como bullying, isolamento social);
d) “Mudanças” (mudança de família ou mudança de escola);
e) “Psiquiátrica” (como internação psiquiátrica) e;
f) “Médica” (como doença grave ou hospitalização médica).
A autora cita alguns exemplos de casos em particular de jovens que, aparentemente, foram influenciados pouco antes de se declararem “transgêneros”.
Caso 01 – “Uma jovem biológica ficou traumatizada por um estupro quando tinha 16 anos de idade. Antes do estupro, ela foi descrita como uma garota feliz; depois do estupro, ela ficou retraída e com medo. Vários meses após o estupro, ela anunciou que era transexual e disse a seus pais que precisava fazer a transição”;
Caso 02 – Uma garota biológica de 14 anos e três amigas fizeram parte de um grupo de amigos mais velhos que passavam muito tempo falando de sexo e sexualidade. Às três amigas anunciaram que eram meninos trans e escolheram nomes masculinos semelhantes. Depois de passar um tempo com essas três amigas, a garota de 14 anos de idade anunciou que ela também era um menino trans”.
Caso 03 – “Uma garota biológica de 12 anos foi questionada especificamente por ter passado pela puberdade precocemente, e a mãe [que participou da pesquisa] escreveu: ‘Como resultado, ela disse que se sentia gorda e odiava seus seios’. Ela aprendeu online que odiar seus seios é um sinal de ser transexual. Ela editou seu diário (excluindo o texto existente e escrevendo um novo) para fazer parecer que ela sempre se sentiu transgênero”.
Os exemplos acima revelam diferentes situações que podem ter influenciado, ou mesmo determinado, a percepção desses jovens acerca da própria sexualidade. Perceba que a multiplicidade de circunstâncias torna a questão “transgênero” extremamente complexa e impossível de ter tratada de forma simplista, como se bastasse apenas a “autopercepção” do indivíduo acerca da própria identidade, uma vez que outros elementos, externos ao próprio sujeito, influenciam essa percepção.
“Popularidade”
Lisa Littman também destacou que os pais relataram o que parece ter sido a preocupação dos filhos com a “popularidade”. Em uma geração marcada pelo “politicamente correto”, nada mais comum do que esperar que os jovens se sintam pressionados para atender os anseios de determinados grupos, especialmente os que obtém forte apoio da grande mídia.
Segundo a pesquisadora, um dos pais relatou que após o filho se dizer transexual, na escola, houve um “grande aumento na popularidade entre o corpo discente em geral. Ser trans é uma estrela de ouro aos olhos de outros adolescentes”.
”Sete entrevistados descreveram uma resposta mista, onde a popularidade da criança aumentou com alguns amigos e diminuiu com os outros. Sete entrevistados descreveram uma resposta neutra, como ‘todos os amigos pareciam extremamente receptivos’. Dois descreveram um aumento temporário na popularidade de seus filhos: ‘Houve uma onda imediata de apoio quando ele se revelou’”, observa Littman.
Os adolescentes que resistem a pressão do grupo são tratados de forma diferente, ficando isolados. Alguns pais disseram que os filhos heterossexuais, para evitar serem pressionados pelos antigos amigos, agora transexuais, pediram para mudar de escola.
“Os adolescentes, em vez de enfrentar seus amigos da escola, pediram para se mudar para outras escolas. Um dos pais disse que seu filho ‘… não podia enfrentar o estigma de voltar à escola e ser marcado como falso… Ou pior, algum tipo de traidor… [e] nos perguntou se poderíamos nos mudar”, conta a autora, que continua:
“No outro caso, os pais relataram que o filho deles achava que nenhum dos amigos originais entenderiam e expressariam a opinião de que se ele não “… sair da cultura de que ‘você é cis [heterossexual], então você é ruim, opressivo ou sem noção’. Ambas as famílias puderam se mudar e ambos os entrevistados relataram que seus filhos prosperaram em novos ambientes e novas escolas”.
Metodologia
A pesquisa de Lisa Littman consistiu em aplicar um questionário com 90 perguntas para os pais de adolescentes e jovens adultos identificados como “transexuais/transgêneros”. No total, foram 256 pais entrevistados – voluntariamente – por ela, sendo a maioria, mais de 90%, mulheres. Os filhos também foram a maioria do sexo feminino (82,8%).
Os críticos da pesquisa alegam que o estudo é falho, porque ouviu os pais e não os próprios filhos. Todavia, isso não desmerece a pesquisa, uma vez que se trata de relatos precisos acerca do jovens, vindo dos próprios pais, pessoas que mais do que ninguém conhecem o dia-a-dia dos seus filhos e o histórico de suas vidas desde o nascimento.
Outro fator importante é que a autora teve como uma das intenções avaliar o nível de influência externa nos relatos de “transexualismo” dos jovens. Uma vez que os mesmos já haviam se “revelado” como trans, já estando convencidos de suas identidades, a entrevista com eles obteria respostas contaminadas por essa percepção, possivelmente influenciada.
É perfeitamente possível compreender que Littman quis obter relatos do ponto de vista mais imparcial possível, partindo dos observadores íntimos dos jovens e não deles próprios. Isso de forma alguma impede que uma pesquisa posterior possa ser feita diretamente com os jovens. Caso isso aconteça, os dados podem ser cruzados e comparados, enriquecendo ainda mais a pesquisa.
O fato é que os dados por hora colhidos com os pais oferecem, sim, um recorte substancial do contexto em que esses jovens viveram e o que possivelmente influenciou suas percepções acerca da própria identidade sexual. Ninguém melhor do que os pais para oferecer essas informações.
Além disso, quando trazida para o campo de outros estudos que avaliam o poder de influência cultural sobre o comportamento humano, a pesquisa de Littman ganha ainda mais corpo e se mostra bastante coerente, uma vez que é inegável a influência dos grupos sobre os indivíduos, especialmente adolescentes.
Conclusão
O estudo de Lisa Littman é de grande importância no cenário acadêmico de pesquisa sobre a sexualidade humana em nossa geração. Considerado “politicamente incorreto”, certamente esse é um dos poucos conteúdos que teremos acesso nos próximos anos abordando de forma confrontadora a ideologia de gênero e todo o ativismo político-ideológico que gira ao seu redor.´
Até o momento seu estudo permanece publicado na revista científica PLOS One e a Universidade de Brown não reiterou qualquer nota de rejeição do material, apesar de ter cedido às pressões dos ativistas LGBTs e retirado a divulgação do conteúdo da sua página, em 27 de agosto passado.
Jeffrey S. Flier, professor e ex-reitor da conceituada Harvard Medical School, escreveu na Quillette a respeito da sua preocupação com a forte repressão ao estudo de Littman, condenando a mistura de questões políticas com a ciência e frisando que a liberdade acadêmica não pode ser ameaçada por motivação ideológica:
“Cada vez mais, a pesquisa sobre temas politicamente carregados está sujeita a um ataque indiscriminado das mídias sociais, o que, por sua vez, pode pressionar os administradores universitários a subverterem às normas estabelecidas em relação à proteção da investigação acadêmica”, escreveu Flier.
Flier comentou a pressão de ativistas sobre a revista PLOS One, para que ela retirasse do ar o estudo publicado:
“Em todos os meus anos no meio acadêmico, nunca vi uma reação comparável de um periódico dias depois de publicar um artigo que o periódico já havia submetido a revisão por colegas, aceito e publicado. Pode-se apenas supor que a resposta foi em grande parte devido ao intenso lobby que a revista recebeu, e à ameaça – declarada ou não – de que uma reação mais midiática poderia chover sobre o PLOS One se nenhuma fosse tomada”.
O próprio Flier ressalta que o estudo de Littman aponta que afirmações “transgêneros” podem estar servindo de mecanismo de reação contra conflitos de ordem emocional, reforçados pela mídia e por grupos sociais, como movimentos políticos. Essa constatação é gravíssima e carece de mais aprofundamento. Estudo na íntegra: PLOS One